terça-feira, 10 de novembro de 2015

LÍNGUA PORTUGUESA - 2o.ANO DO ENSINO MÉDIO - 4o.BIMESTRE

http://www.conexaoprofessor.rj.gov.br/downloads/cm/cm_9_10_70_2S_4.pdf

Aula 01: O Pré-Modernismo no Brasil: início de uma nova época 
Aula 02: Principais autores e obras 
Aula 03: A crônica literária 
Aula 04: O romance
Aula 05: Gênero textual: Seminário 
Aula 06: Gênero textual: Debate regrado 

AULA 01: PRÉ-MODERNISMO NO BRASIL: INÍCIO DE UMA NOVA ÉPOCA

Nesta aula, iremos estudar sobre o Pré-Modernismo no Brasil. Trataremos do contexto histórico e das principais características desse movimento, a fim de nos situarmos nos principais fatos históricos ocorridos no Brasil e no mundo, no período de 1902 a 1922 – vinte anos que se antecederam à Semana de Arte Moderna, marco do início do Modernismo no Brasil.
O que foi o Pré-Modernismo?
O Pré-Modernismo no Brasil foi o período compreendido entre 1902 e 1922. Esse período não se constitui como uma “escola literária”, pois não temos um grupo de escritores que apresentem características comuns em relação à temática e à linguagem em suas obras literárias. Na realidade, esse período pode ser considerado uma fase de transição, na qual coexistiram lado a lado ideias conservadoras e ideias renovadoras, em relação à literatura e à realidade brasileira. Nesse período, surge uma literatura voltada para a realidade brasileira, em meio aos aspectos econômicos, políticos e sociais. Os autores dessa época, embora tivessem estilos e objetivos bem distintos, apresentavam um traço comum entre eles: a criação de um Brasil literário, com uma literatura profundamente engajada com o momento que vivenciaram e a ruptura com um passado que não podia mais permanecer em meio às transformações da época.

Contexto histórico mundial

Nesse período, a Europa estava passando por uma grande turbulência política e socioeconômica. Grandes conflitos já estavam visíveis desde a metade do século XIX na política de alianças das potências europeias: Tríplice Entente (Rússia, França e Inglaterra) e a Tríplice Aliança (Alemanha, Áustria-Hungria e Itália). A partir daí, eclode a Primeira Guerra Mundial (1914 a 1918). Ainda em meio a esse conflito, 1917, dá-se a Revolução Russa (revolução proletária). Após a Primeira Guerra, novos conflitos e crises econômicas vão surgir.

Contexto histórico no Brasil

Enquanto a Europa se prepara e vive o conflito da Primeira Guerra Mundial, o Brasil vive a República do “café-com-leite”, dominada pelos grandes proprietários rurais. Foi a época áurea da economia cafeeira (São Paulo) e do desenvolvimento do gado leiteiro (Minas Gerais) no Sudeste. Com essa realidade, deu-se a entrada de grandes levas de imigrantes, em especial, italianos, para trabalharem nas fazendas de café. O Sul e o Sudeste cresciam rapidamente, enquanto que o Nordeste entrava em decadência com a cultura da cana-de-açúcar, devido à ascensão do café. Em meio a essa realidade econômica, a classe média cresce, surge a classe operária e, paralelamente a isso, os escravos recém-libertados vivem numa situação de extremo abandono, à margem da sociedade. Além disso, temos o esplendor da Amazônia, com o ciclo da borracha e a crescente urbanização de São Paulo.
Ao lado de toda essa prosperidade, que deixa fortes contrastes na sociedade brasileira, foi o tempo também dos grandes conflitos sociais em vários pontos do país. Em fins do século XIX, ocorreu a Revolta de Canudos, na Bahia, liderada por Antônio Conselheiro. No sertão de Cariri, no Ceará, de 1911 a 1914, formou-se um movimento religioso, denominado Revolta de Juazeiro, sob a liderança do Padre Cícero e de Floro Bartolomeu, cujas ideias entravam em confronto com o sistema coronelista. No período de 1912 a 1916, Santa Catarina viveu a Revolta do Contestado, movimento de caráter messiânico, cujo líder, o beato José Maria, pretendia fundar uma “monarquia celestial” na região, na qual não seria permitida a cobrança de impostos nem a propriedade da terra. Pernambuco, por volta de 1920, Lampião e seus cangaceiros protestam contra a opressão da vida nordestina e desencadeiam uma série de conflitos.
Houve também manifestações de protestos de ordem urbana e social. No Rio de Janeiro, em 1904, ocorreu a revolta contra a vacina obrigatória de combate à varíola e à febre amarela, promovida por Oswaldo Cruz, médico sanitarista. Em 1910, no Rio, a Revolta da Chibata, a qual exigia o fim do castigo corporal na Marinha. São Paulo enfrenta os primeiros movimentos das greves gerais de operários (1917-1919) por melhores condições de trabalho.

Características do Pré-Modernismo

Apesar de o Pré-Modernismo não constituir uma escola literária, podemos perceber alguns pontos em comum entre as principais obras literárias pré-modernistas:
Ruptura com o passado, com o academicismo: linguagem não literária, mais realista.
Denúncia da realidade brasileira: fala-se do sertão nordestino, dos caboclos do interior, dos subúrbios.
Regionalismo: os autores pré-modernistas colocam em suas obras a realidade do Norte e Nordeste (Euclides da Cunha); o Espírito Santo (Graça Aranha); o vale do Paraíba e o interior de São Paulo (Monteiro Lobato) e o subúrbio carioca (Lima Barreto).
Tipos humanos marginalizados: sertanejo, nordestino, caipira, mulato, funcionários públicos.
Ligação com fatos políticos, econômicos e sociais da época: menor distanciamento entre realidade e ficção.
Como se observa, é um novo momento que se inicia na história literária brasileira.
Caro aluno, após essa visão histórica e cultural do Brasil no início do século XX, iremos resolver algumas atividades, a fim de fixarmos os conteúdos até aqui desenvolvidos.

1) O que se entende por Pré-Modernismo?
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2) Quais as principais revoltas que marcaram o início do século XX no Brasil? Que legado essas revoltas nos deixaram?
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3) Leia o fragmento de texto abaixo e aponte uma característica do Pré-Modernismo.
“E a tudo atendendo considero-me eleito – mas numa nova situação de academicismo: o acadêmico de fora, sentadinho na porta do Petit Trianon com os olhos reverentes pousados no busto do fundador da casa e o nome dos dez signatários gravados indelevelmente em meu imo. Fico-me na soleira do vestíbulo. Mal comportado que sou, reconheço o meu lugar. O bom comportamento acadêmico lá de dentro me dá aflição...”(Fragmento da carta em que Monteiro Lobato recusa-se a entrar para a Academia Brasileira de Letras).
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4) Leia a letra de música “Notícias do Brasil (Os pássaros trazem)”, de Milton Nascimento e Fernando Brant.

Uma notícia está chegando lá do Maranhão
Não deu no rádio, no jornal ou na televisão
Veio no vento que soprava lá no litoral
De Fortaleza, de Recife e de Natal

A boa-nova foi ouvida em Belém, Manaus,
João Pessoa, Teresina e Aracaju
E lá do norte foi descendo pro Brasil central
Chegou em Minas, já bateu bem lá no sul

Aqui vive um povo que merece mais respeito, sabe?
E belo é o povo como é belo todo amor
Aqui vive um povo que é mar e que é rio
E seu destino é um dia se juntar

O canto mais belo será sempre mais sincero, sabe?
E tudo quanto é belo será sempre de espantar
Aqui vive um povo que cultiva a qualidade
Ser mais sábio que quem o quer governar

A novidade é que o Brasil não é só litoral
É muito mais, é muito mais que qualquer zona sul
Tem gente boa espalhada por esse Brasil
Que vai fazer desse lugar um bom país

Uma notícia está chegando lá do interior
Não deu no rádio, no jornal ou na televisão
Ficar de frente para o mar,de costas pro Brasil
Não vai fazer desse lugar um bom país

http://letras.mus.br/milton-nascimento/867751/

1- Identifique três características do Pré-Modernismo presentes na letra da música. Justifique com versos do texto.
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AULA 02: PRINCIPAIS AUTORES E OBRAS

Iniciaremos esta aula, abordando os principais autores e obras do Pré-Modernismo.
Veja no quadro abaixo os autores mais conhecidos dessa época:

Euclides da Cunha


Monteiro Lobato


Graça Aranha


Lima Barreto



Augusto dos Anjos


https://www.google.com.br/search?q=foto+de+autores+do+pre-modernismo&tbm=isch&tbo=u&source=univ&sa=X&ei=z6dHUpmeBs-q4APkkYHoBA&ved=0CC0QsAQ&biw=1024&bih=417&dpr=1

Vamos comentar um pouco sobre esses autores e as suas principais obras.

Os Sertões: uma grande saga

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Em Os Sertões, Euclides da Cunha denuncia a miséria do sertanejo, além de apontar o fanatismo religioso que levou o Nordeste brasileiro à situação de extremo abandono.
Antônio Conselheiro era um líder religioso. Ao chegar à Bahia em 1893, reuniu sertanejos, ex-escravos, pessoas desafortunadas e perseguidas por coronéis, ou seja, todos aqueles que se encontravam sem perspectiva de boas condições de vida. Formou, então, com essas pessoas em torno de si, a comunidade de Canudos (aproximadamente 30 mil habitantes), que teve um fim trágico promovido pelo Exército da época.
Canudos incomodava os latifundiários baianos e a elite política do país. Isso porque na comunidade pregava-se contra a República; não havia cobrança de impostos e não obedeciam ao poder de quem governava o país, ou seja, era uma comunidade com leis próprias.
O escritor Euclides da Cunha organizou sua obra Os Sertões em três partes: A terra, O homem e A luta. Em A terra, o autor faz um relato detalhado das condições físicas de Canudos, descrevendo o relevo, o clima, a fauna e a flora do sertão nordestino. Na parte O homem, faz um estudo detalhado sobre o sertanejo e apresenta o líder religioso Antônio Conselheiro. E, em A luta, o autor narra todo o conflito de Canudos, desde os problemas que antecederam o embate até o fim trágico da luta. Essa obra situa-se entre a História, a Sociologia e a Literatura, podendo ser considerada um ensaio (texto expositivo-argumentativo que fala sobre um assunto específico em profundidade, mas sem esgotá-lo).

Policarpo Quaresma – o herói sonhador


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Com relação ao escritor Lima Barreto, este descreve com clareza e detalhes o cotidiano das classes suburbanas do Rio de Janeiro e denuncia os problemas sociais de sua época: desigualdade entre as classes sociais, preconceitos racial e social sofridos por negros e mestiços e a política de seu tempo.
No romance Triste fim de Policarpo Quaresma, uma de suas obras, retrata um personagem sonhador, inconformado com a realidade, crítico do regime político republicano e também com ideias mais evoluídas em relação à época: critica o fato de as mulheres serem educadas somente para o casamento e defende o voto feminino, pois acha que as mulheres deviam ter participação política e social.
O personagem Policarpo Quaresma, no decorrer do enredo, tenta reformar o Brasil de três formas diferentes: inicialmente, por meio da cultura; depois, da agricultura e, por fim, da política. Mas todo o seu intento foi em vão, pois acaba sendo vítima da própria política.

Jeca Tatu – preconceito ao caipira

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Monteiro Lobato, na política, foi um vanguardista: defendeu a democracia, a melhoria do sistema de saúde pública, a exploração de ferro, minerais e petróleo; lutou pela valorização dos produtos nacionais, pela moralização do Estado e fundou companhias editoriais.
Já, na literatura, apresentou um caráter moralista, pedagógico e conservador.

Urupês



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Em sua obra Urupês, o autor criou a personagem Jeca Tatu, o caipira brasileiro, caracterizando-o como uma pessoa indolente e preguiçosa. Esse perfil levou muitos a criticar Monteiro Lobato, inclusive médicos sanitaristas que provaram que as doenças eram as principais causadoras do perfil traçado pelo autor.
Lobato aceitou as críticas e, quando publicou o seu livro de contos “Urupês”, no prefácio, escreveu um pedido de desculpas:

[...] E aqui aproveito o lance de implorar perdão ao pobre Jeca. Eu ignorava que eras assim por motivo de doença. Hoje é com piedade infinita que te encara quem, naquele tempo, só via em ti um mamparreiro [vadio, preguiçoso] de marca. Perdoas?

LOBATO, Monteiro. Urupês. São Paulo: Martins Fontes, 1944.

Canaã – a imigração europeia

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Graça Aranha pode ser analisado como um romancista preocupado em retratar a realidade que observa, mas de modo romântico-naturalista, e como um divulgador das ideias modernistas, já que esteve na Europa no período das correntes de vanguardas.
Em sua obra Canaã, mistura influências do determinismo naturalista com os recursos impressionistas. Nesse livro, o autor trata da imigração e as perspectivas de vida do imigrante europeu em terras brasileiras.

Eu e Outras Poesias – a poesia do “Doutor Tristeza” ou “Poeta Raquítico”



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Augusto dos Anjos foi considerado um poeta desequilibrado. Suas poesias têm influências evolucionistas de Darwin, biológicas de Haeckel e ideias pessimistas. É um poeta profundamente pessimista, com obsessão pela temática da morte e os fenômenos causados pela mesma: a decomposição do corpo e os vermes que o corroem. Isso lhe dá a visão da certeza da morte como destruidora da vida e o homem ser reduzido ao pó. Dentro dessa visão materialista,
há o contraste com a postura espiritualista do poeta, pois nutria grande simpatia pela doutrina budista. Matéria e espírito são duas forças polares que vão estar o tempo todo em sua obra.

Vamos, a seguir, analisar alguns fragmentos de três das obras citadas acima para conhecermos melhor as principais características de cada autor.O fragmento de texto abaixo é do livro Os Sertões, de Euclides da Cunha.

TEXTO 1 – A terra
Canudos
O arraial crescia vertiginosamente, coalhando as colinas.
A edificação rudimentar permitia à multidão sem lares fazer até doze casas por dia; - e, à medida que se formava, a tapera colossal parecia estereografar a feição moral da sociedade ali acoutada. Era a objetivação daquela insânia imensa.[...] Não se distinguiam as ruas. Substituía-as dédalo desesperador de becos estreitíssimos, mal separando o baralhamento caótico dos casebres feitos ao acaso, testadas volvidas para todos os pontos, cumeeiras orientando-se para todos os rumos, como se tudo aquilo fosse construído, febrilmente, numa noite, por uma multidão de loucos...
Feitas de pau-a-pique e divididas em três compartimentos minúsculos, as casas eram paródia grosseira da antiga morada romana: um vestíbulo exíguo, um átrio servindo ao mesmo tempo de cozinha, sala de jantar e de recepção; e uma alcova lateral, furna escuríssima mal revelada por uma porta estreita e baixa. Cobertas de camadas espessas de vinte centímetros, de barro, sobre ramos de icó, lembravam as choupanas dos gauleses de César. Traíam a fase transitória entre a caverna primitiva e a casa. Se as edificações em suas modalidades evolutivas objetivam a personalidade humana, o casebre de teto de argila dos jagunços equiparado ao ‘wigwam’ dos peles-vermelhas sugeria paralelo deplorável. O mesmo desconforto e, sobretudo, a mesma pobreza repugnante, traduzindo de certo modo, mais do que a miséria do homem, a decrepitude da raça.
CUNHA, Euclides da. Os sertões. São Paulo: Ática, 2000. p. 158-159.

VOCABULÁRIO:
Estereografar: representar objeto tridimensional num plano.
Acoutada: refugiada, escondida.
Insânia: loucura; falta de juízo.
Dédalo: emaranhado de caminhos; labirinto.
Testada: frente da casa.
Paródia: arremedo; imitação.
Vestíbulo: espaço entre a via pública e a entrada de um edifício.
Exíguo: pequena dimensão; diminuto.
Átrio: pátio que se segue à entrada das casas.
Alcova: pequeno quanto de dormir.
Furna: caverna.
Icó: espécie de árvore da caatinga nordestina.
César: Júlio César, imperador romano.
Wigwam: cabana dos índios americanos.
Decrepitude: estado de adiantada velhice.

Após a leitura do texto, responda às questões a seguir:

1. Observe a descrição física do arraial de Canudos feita por Euclides da Cunha. Poderíamos considerar uma comunidade organizada e bem urbanizada? Justifique a sua resposta e exemplifique com partes do texto.
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2. Leia as afirmativas abaixo e marque as corretas:

a) Quando Euclides da Cunha diz “coalhando as colinas”, ele se refere à maneira como foi feito o povoamento do arraial.
b) De acordo como eram construídas as casas, a extrema simplicidade, era possível o arraial crescer vertiginosamente.
c) A “sociedade ali acoutada” é o mesmo que dizer “a população ali abrigada”.
d) Euclides da Cunha não descreve o arraial de modo objetivo, mas idealiza o arraial de Canudos.

Agora, vamos ler um fragmento de texto do livro Urupês, de Monteiro Lobato.
Jeca Tatu é um piraquara do Paraíba, maravilhoso epítome de carne onde se resumem todas as características da espécie.[...] Seu grande cuidado é espremer todas as consequências da lei do menor esforço – e nisto vai longe.Começa na morada. Sua casa de sapé e lama faz sorrir aos bichos que moram em toca e gargalhar ao joão-de-barro. Pura biboca de bosquímano. Mobília, nenhuma. A cama é uma espipada esteira de peri posta sobre o chão batido.Às vezes se dá ao luxo de um banquinho de três pernas – para os hóspedes. Três pernas permitem equilíbrio; inútil, portanto, meter a quarta, o que ainda o obrigaria a nivelar o chão. Para que assentos, se a natureza os dotou de sólidos, rachados calcanhares sobre os quais se sentam? Nenhum talher. Não é munheca um talher completo – colher, garfo e faca a um tempo? No mais, umas cuias, gamelinhas, um pote esbeiçado, a pichorra e a panela de feijão. Nada de armários ou baús. A roupa, guarda-a no corpo. Só tem dois parelhos; um que traz no uso e outro na lavagem. Os mantimentos apaiola nos cantos da casa. Inventou um cipó preso à cumeeira, de gancho na ponta e um disco de lata no alto: ali pendura o toucinho, a salvo dos gatos e ratos.Da parede pende a espingarda picapau, o polvarinho de chifre, o S. Benedito defumado, o rabo de tatu e as palmas bentas de queimar durante as fortes trovoadas. Servem de gaveta os buracos da parede.Seus remotos avós não gozavam maiores comodidades. Seus netos não meterão quarta perna ao banco. Para quê? Vive-se bem sem isso.

LOBATO, Monteiro. Urupês. 20. ed. São Paulo: Brasiliense, 1976. p. 148-149. (Adaptação da ortografia)

VOCABULÁRIO
Piraquara: caipira.
Epítome: resumo.
Espipada: furada.
Biboca: casebre.
Bosquímano: homem da floresta (boxímane).
Peri: de índio.
Munheca: mão (no português do Sul).
Gamelinhas: vasilhas em forma de tigela.
Pichorra: vasilha com bico.
Apaiola: guarda.
Picapau: cano fino e forte.
Polvarinho: utensílio em que se leva pólvora para a caça.

Responda às questões abaixo:
3. Destaque do texto as características descritas pelo autor da casa e dos objetos do Jeca Tatu.
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4. Por que, segundo o autor, a casa do Jeca Tatu faria “gargalhar o joão-de-barro”?
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Passemos agora para um poema de Augusto dos Anjos.

Budismo Moderno
Tome, Dr., esta tesoura, e... corte
Minha singularíssima pessoa.
Que importaria a mim que a bicharia roa
Todo o meu coração, depois da morte?!
Ah! Um urubu pousou na minha sorte!
Também, das diatomáceas da lagoa
A criptógama cápsula se esbroa
Ao contato de bronca destra forte!
Dissolva-se, portanto, minha vida
Igualmente a uma célula caída
Na aberração de um óvulo infecundo;
Mas o agregado abstrato das saudades
Fique batendo nas perpétuas grades
Do último verso que eu fizer no mundo!

VOCABULÁRIO
Diatomáceas: algas unicelulares providas de concha sílica.
Criptógama: algas com órgãos reprodutores diminutos.
Esbroa: (esboroar) reduzir-se a pó; desfazer-se.
Bronca: áspera; dura.
Destra: a mão direita.
Agregado: reunido num todo.

5. O poeta Augusto dos Anjos tem como temática principal a morte. Que características no poema estão relacionadas com essa temática?
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6. Estamos diante de um texto figurativo. Várias palavras e expressões representam a morte. Destaque-as.
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7. Comente o verso: “Ah! Um urubu pousou na minha sorte!”
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AULA 03: A CRÔNICA LITERÁRIA

Caro aluno, nesta aula, você vai estudar sobre a crônica literária.Você costuma ler esse gênero textual? Na verdade, a crônica é um gênero híbrido, ou seja, uma mistura de texto jornalístico e literário. Ela pode ser escrita tanto para ser publicada num jornal e revista, quanto para ser publicada em um livro (antologia de crônicas). As crônicas variam muito de assuntos, porém o autor sempre mostra o seu ponto de vista a respeito do cotidiano, ou ainda reflete sobre acontecimentos esportivos, políticos, artísticos etc. Nesse gênero textual, em termos de linguagem, temos indícios de informalidade na escolha de palavras e expressões e a combinação de elementos literários (linguagem figurada) com elementos da linguagem jornalística (clareza nas informações), além de ser um texto curto e sempre escrito em prosa, caracterizando-se pela fusão de narrativa com a exposição de ideias e opiniões. O Pré-Modernismo teve importantes cronistas, cujas obras documentavam a modernização do país, bem como a sua diversidade cultural. Lima Barreto foi um desses cronistas que analisou as diversas faces do Brasil de sua época. Leia a crônica abaixo:

O "MUAMBEIRO"

Quando saio de casa e vou à esquina da Estrada Real de Santa Cruz, esperar o bonde, vejo bem a miséria que vai por este Rio de Janeiro.Moro há mais de 10 anos naquelas paragens e não sei por que os humildes e os pobres têm-me na conta de pessoa importante, poderosa, capaz de arranjar empregos e solver dificuldades.Pergunta-me um se deve assentar praça na Brigada, pois há oito meses não trabalha no seu ofício de carpinteiro; pergunta-me outro se deve votar no Sr. Fulano; e, às vezes mesmo, consultam-me sobre casos embaraçosos. Houve um matador de porcos que pediu a minha opinião sobre este caso curioso: se devia aceitar dez mil-réis para matar o cevado do capitão M., o que lhe dava trabalho por três dias, com a salga e o fabrico de linguiças; ou se devia comprar o canastra por cinquenta mil-réis e revendê-lo aos quilos pela redondeza. Eu, que nunca fui versado em coisas de matadouro, olhei os Órgãos ainda fumarentos nestas manhãs de cerração e pensei que o meu destino era ser vigário de uma pequena freguesia.Ultimamente, na esquina, veio ao meu encontro um homem com quem conversei alguns minutos. Ele me contou a sua desdita com todo o vagar de popular.Era operário não sei de que ofício; ficara sem emprego, mas, como tinha um pequeno sítio lá para as bandas do Timbó e algumas economias, não se atrapalhou em começo. As economias foram-se, mas ficou-lhe o sítio, com as suas laranjeiras, com as suas tangerineiras, as suas bananeiras, árvore de futuro com a qual o Sr. Cincinato Braga, depois de salvar o café, vai salvar o Brasil. Notem bem: depois.Este ano foi particularmente abundante em laranjas e o nosso homem teve a feliz ideia de vendê-las. Vendo, porém, que os compradores na porta não lhe davam o preço devido, tratou de valorizar o produto, mas sem empréstimo a 30%.Comprou um cesto, encheu-o de laranjas e saiu a gritar:
- Vai laranja boa! Uma a vintém!
Foi feliz e pelo caminho apurou uns dois mil-réis. Quando, porém, chegou a Todos os Santos, saiu-lhe ao encontro a lei, na pessoa de um guarda municipal:
- Que dê a licença?
- Que licença?
- Já sei, intimou o guarda. Você é "muambeiro". Vamos para a Agência.Tomaram-lhe o cesto, as laranjas, o dinheiro e, a muito custo, deixaram-no com a roupa do corpo.Eis aí como se protege a pomicultura.

Careta, 7-8-1915. Lima Barreto, Marginália. p. 36-37. Disponível em: http://livros.universia.com.br.

VOCABULÁRIO
Estrada Real de Santa Cruz - foi o local de uma estrade de ferro e de uma próspera fazenda fundada pelos padres jesuítas nos arredores da cidade do Rio de Janeiro. Sua sede e núcleo principal correspondem hoje ao Bairro carioca de Santa Cruz. Órgãos – Parque Nacional da Serra dos Órgãos, em Teresópolis.
Paragens – região das cercanias do lugar onde está.
Canastra – parte posterior do corpo.
Desdita – má sorte.
Timbó – rio que corta os bairros de Cavalcanti, Tomás Coelho, Engenho da Rainha, Inhaúma e Higienópolis. Todos os Santos - pequeno bairro da Zona Norte do Rio de Janeiro, sendo cortado pela Estrada de Ferro Central do Brasil.
Pomicultura – cultura de árvores frutíferas.

Agora, você vai analisar a crônica “O muambeiro”, resolvendo os exercícios abaixo.
Como você observou, a crônica é um gênero textual no qual se apresentam fatos do cotidiano. Há a presença de poucos personagens, linguagem geralmente informal, direta, simples e, em alguns casos, poética.

1. Explique por que o texto “O muambeiro” pode ser considerado uma crônica.
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2. O assunto tratado no texto recria a realidade? Por quê?
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3. Muitas crônicas contam uma história, um fato. Isso permite identificar alguns elementos de uma narrativa.Qual o espaço onde se passa a crônica? E qual é o período de tempo?
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4. A crônica é um gênero textual vinculado a uma experiência do cotidiano. O fato narrado pelo cronista seria real ou fictício? Justifique.
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5. O humor é uma característica bem presente nas crônicas. Isso faz com que as mesmas tratem de temas do cotidiano, com um ponto de vista crítico, mas sem perder a leveza daquilo que é narrado. A crônica em análise apresenta traços do humor? Justifique.
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6. A crônica, em geral, termina com uma reflexão expressa pelo cronista. Explique a reflexão do cronista ao dizer “Eis aí como se protege a pomicultura”.
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AULA 04: O ROMANCE

Nesta aula, você vai estudar sobre o romance. Você já leu algum romance? O que seria o gênero textual romance? Romance é o nome que se dá genericamente a uma narrativa (longa ou não), na qual personagens se envolvem em várias ações complexas.O gênero romance se desenvolveu na Europa, em meados do século XVIII e logo caiu no gosto da burguesia.Segundo o especialista em literatura Massaud Moisés, em seu livro “A criação literária”, “o romance pode... apresentar uma visão global do mundo. Sua faculdade essencial consiste em recriar a realidade: não a fotografa, recompõe-na. [...] Por ser o romance a recriação da realidade é que os ficcionistas se têm demonstrado sensíveis ao tema da sociedade em decadência: quando tudo parece se desmoronar é que mais se faz necessária a tarefa do romancista.” (p. 389) Costumamos associar a palavra romance a uma história de amor. E isso se dá pelo fato de muitas histórias de amor serem escritas em forma de romance. Tal ideia se formou no Romantismo, século XIX, cuja época propiciou um amplo desenvolvimento desse gênero.No Pré-Modernismo, o romance também ganha força com Lima Barreto e Graça Aranha, os quais tentam destacar os problemas nacionais em suas obras. Quando analisamos um romance, devemos considerar os elementos da narrativa. Esses elementos são:
Personagens – são aqueles que vivem as ações, os acontecimentos. O número pode variar de acordo com a obra. Eles apresentam a seguinte hierarquia:

Personagens principais: protagonistas.
Personagens secundárias.
Espaço – lugar em que se passam as ações.

 No romance, ocorre uma multiplicidade de espaços. Temos os seguintes espaços:

Espaço físico – onde se passam as ações: cenário exterior, geográfico ou cenário interior – espaço de uma casa, quarto etc.
Espaço psicológico – vivenciado pela personagem conforme suas sensações e percepções.
Espaço social – relacionado a diversas esferas sociais que os personagens pertencem.

Tempo – há dois tipos:
Tempo cronológico – tempo do relógio, do calendário.
Tempo psicológico – tempo subjetivo, das memórias, dos pensamentos da personagem.

Narrador – há três tipos de narrador (foco narrativo):
Narrador-personagem – narrador em 1ª pessoa; conta uma história da qual participa como personagem.
Narrador-observador – narrador em 3ª pessoa; não participa da história; conta o que observa; não conhece o interior das personagens (emoções, sentimentos).
Narrador onisciente – narrador em 3ª pessoa; não participa da história, mas, além de ser observador, conhece o que se passa no interior das personagens (emoções, sentimentos).

Enredo – conflito (ou drama) principal e outros conflitos que se ligam a um núcleo central.
Ação – comportamentos e atitudes das personagens, contados através de ações verbais.

Vamos analisar alguns fragmentos do romance Canaã, de Graça Aranha.
Nesse livro, é narrada a trajetória de dois imigrantes alemães na região de Porto Cachoeiro, no Espírito Santo: Milkau e Lentz. O primeiro é um idealista, que vê o Brasil como uma terra prometida. Já Lentz mostra-se um fascista extremamente radical e crê na superioridade da raça alemã sobre as demais. Milkau é um visionário que pensa que a nova terra está liberta dos preconceitos herdados do colonizador português e envolve-se com uma doméstica, Maria, que fora seduzida pelo filho do patrão e, por conseguinte, expulsa de casa, grávida. O romance termina com a fuga de Milkau e Maria, em busca de uma terra próspera e amigável, na qual a índole generosa e pacífica dos dois encontrasse a felicidade.Segundo o especialista em literatura, Alfredo Bosi, em seu livro “História concisa da literatura brasileira”, temos em Canaã “o contraste entre o racismo e o universalismo, entre a ‘lei da força’ e a ‘lei do amor’ que polariza ideologicamente, em Canaã, as atitudes do imigrante europeu diante da sua nova morada.”

CAPÍTULO I

Milkau cavalgava molemente o cansado cavalo que alugara para ir do Queimado à cidade do Porto Cachoeiro, no Espírito Santo.Os seus olhos de imigrante passeiam na doce redondeza do panorama. Nessa região a terra exprime uma harmonia perfeita no conjunto das coisas: nem o rio é largo e monstruoso precipitando-se como espantosa torrente, nem a serra se compõe de grandes montanhas, dessas que enterram a cabeça nas nuvens e fascinam e atraem como inspiradoras de cultos tenebrosos, convidando à morte como a um tentador abrigo... O Santa Maria é um pequeno filho das alturas, ligeiro em seus princípios, depois embaraçado longo trecho por pedras que o encachoeiram, e das quais se livra num terrível esforço, mugindo de dor, para alcançar afinal a sua velocidade suave e alegre. Escapa-se então por entre uma floresta sem grandeza, insinua-se vivaz no seio de colinas torneadas e brandas, que parece entregarem-se complacentes àquela risonha e húmida loucura... Elas por sua vez se alteiam graciosas, vestidas de uma relva curta que suave lhes desce pelos flancos, como túnica fulva, envolvendo-as numa carícia quente e infinita. A solidão formada pelo rio e pelos morros era naquele glorioso momento luminosa e calma. Sobre ela não pairava a menor angústia de terror.[...] Na frente do imigrante vinha como guia um menino, filho de um alugador de animais no Queimado. [...] E o viajante saía da contemplação, surgia lá do fundo dos seus pensamentos, e chamando a si o pequeno:
— Então, vens sempre ao Cachoeiro?
— Ah!... disse o menino como que espantado de ouvir uma voz humana... — Venho sempre quando há freguês; ainda anteontem vim, mas desde muito não chegava ninguém da Vitória. Também choveu tanto estes dias!... [...]

CAPÍTULO XII (epílogo do romance)

— MARIA!
A desgraçada estremeceu; e com as mãos hirtas, estiradas, afastou de si o rosto que se inclinara sobre ela. Nas torturas do pesadelo, parecia-lhe que beiços roxos, sedentos e viscosos lhe buscavam os lábios...
— Maria sou eu... – repetiu Milkau.
Ela abriu os olhos e ficou deslumbrada. A sua mão agora branda e lânguida tateava incerta para se certificar da súbita e estranha aparição do amigo. E gestos infantis e leves roçavam pela barba de Milkau numa inconsciente carícia...
— Vamos! Levanta-te... – disse-lhe ele, baixo e com firmeza, sacudindo o morno carinho, recolhendo e enfeixando com energia as suas forças mais intensas. Obedecendo, Maria ergueu-se; e pela mão de Milkau foi seguindo pela casa meio escura. No corredor, a claridade da noite, que entrava pela porta da rua, aberta como de costume, deixava ver o corpo de um soldado negro dormindo numa postura brutal, como uma figura tosca e arcaica. A prisioneira alarmada quis recuar; Milkau tomou-lhe as mãos com império e passou com ela sereno e forte ao lado da sentinela, conduzindo-a para a noite e para a liberdade.(...) Era no ouvido dela, assustadiça e trêmula, que Milkau ia falando:
— Fujamos para sempre de tudo o que te persegue; vamos além, aos outros homens, em outra parte, onde a bondade corra espontânea e abundante, como a água sobre a terra. Vem... Subamos aquelas montanhas de esperança. Repousemos depois na perpétua alegria... Vamos... corre. (...)Corriam, corriam... Atrás de si, ouvia ela a voz de Milkau, vibrando como a modulação de um hino...
— Adiante... Adiante... Não pares... Eu vejo. Canaã! Canaã! (...)
— Canaã! Canaã!... – suplicava ele em pensamento, pedindo à noite que lhe revelasse a estrada da Promissão.E tudo era silêncio e mistério... Corriam... Corriam. E o mundo parecia sem fim, e a terra do amor mergulhada, sumida na névoa incomensurável... E Milkau, num sofrimento devorador, ia vendo que tudo era o mesmo; horas e horas, fatigados de voar, e nada variava, e nada lhe aparecia... Corriam... Corriam... (...) Apenas na sua frente uma visão deliciosa era a transfiguração de Maria. Animada, transmudada pelo delicioso poder do sonho, a mulher enchia de novas carnes o seu esqueleto de prisioneira e mártir; novo sangue batia-lhe vitorioso nas artérias, inflamando-as; os cabelos cresciam-lhe milagrosos como florestas douradas deitando ramagens, que cobriam e beneficiavam o mundo, os olhos iam iluminando o caminho, e Milkau envolto no foco dessa gloriosa luz, acompanhava em amargurado êxtase a sombra que o arrebatava... Corriam... Corriam... E tudo era imutável na noite. A figura fantástica sempre adiante, veloz e intangível; ele atrás, ansiado, naquela busca fatigante e vã, sem a poder alcançar, e temendo dissolver com a sua voz mortal a dourada forma da Ilusão, que seguia amando... Canaã! Canaã! Pedia ele no coração, para fim do seu martírio... E nunca jamais lhe aparecia a terra desejada... Nunca jamais... Corriam... Corriam... A noite enganadora, recolhia-se, o mundo cansava de ser igual; Milkau festejou num frêmito de esperança a deliciosa transição... Enfim, Canaã ia revelar-se!... A nova luz sem mistério chegou e esclareceu a várzea. Milkau viu que tudo era vazio, que tudo era deserto, que os novos homens ainda ali não tinham surgido. Com as suas mãos desesperançadas, tocou a visão que o arrastara. Ao contato humano, ela parou, e Maria volveu outra vez para Milkau a primitiva face moribunda, os mesmos olhos pisados, a mesma boca murcha, a mesma figura de mártir.Vendo-a assim, na miseranda realidade, ele disse:
— Não te canses em vão. Não corras... É inútil... A Terra da Promissão, que eu te ia mostrar e que também ansioso buscava, não a vejo mais... Ainda não despontou à vida. Paremos aqui e esperemos que ela venha vindo no sangue das gerações redimidas. Não desesperes. Sejamos fiéis à doce ilusão da Miragem. Aquele que vive um ideal contrai um empréstimo com a eternidade... Cada um de nós, a soma de todos nós, exprime a força criadora da utopia; é em nós mesmos, como um indefinido ponto de transição, que se fará a passagem dolorosa do sofrimento. Purifiquemos os nossos corpos, nós que viemos do mal originário, que é a Violência... [...]

Caro aluno, após a leitura do romance, você vai resolver os exercícios abaixo. Leia cada questão cuidadosamente. Caso tenha alguma dúvida, releia o texto.

Sobre o capítulo I -
1. O início do romance é marcado por descrições. Nessas descrições predominam elementos da cultura ou da natureza? Justifique com o texto.
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2. Que tipo de narrador tem este capítulo? Justifique sua resposta.
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3. Quais personagens aparecem nesse capítulo?
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4. Em que espaço se dá a narrativa?
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Sobre o capítulo XII -
5. O fragmento é um dos episódios finais do romance. O personagem Milkau, após libertar Maria da prisão, foge juntamente com ela para buscar um lugar onde “a bondade corre espontânea e abundante como a água sobre a terra”. A partir da leitura do texto, pode-se afirmar que:
a) eles, finalmente, encontraram Canaã, a “Terra da Promissão”.
b) Milkau compreendeu que a “Terra da Promissão” só poderia ser encontrada depois da morte.
c) a “Terra da Promissão” ainda não existia, mas existiria algum dia.
d) Milkau, enfim, compreendeu que a “Terra da Promissão” não passava de uma ilusão.

6. Para Milkau, a “Terra da Promissão”:
a) seria um lugar onde todos eram fracos, mas muito carinhosos uns com os outros.
b) seria uma região onde não haveria lugar para a força, só para o amor, único sentimento que moveria a humanidade.
c) seria um lugar onde os homens jamais morreriam, porque lá não existiria a violência.
d) não passaria de uma miragem, que só poderia ser conquistada depois do derramamento de muito sangue.

7. Uma característica de algumas obras pré-modernistas é a valorização da linguagem coloquial. Pela leitura do texto, podemos concluir que:
a)não é um traço marcante do romance Canaã.
b)é muito usada pelo autor do romance.
c)é empregada com restrições por Graça Aranha.
d) é renegada pelo autor.

 em: http://sesi.webensino.com.br/sistema/webensino/aulas/repository_data//SESIeduca/ENS_MED/ENS_MED_F03_PORT/356_POR_ENS_MED_03_09/desafios_do_percurso.html. (Questões 5, 6 e 7).

Nesta aula, vamos estudar o gênero SEMINÁRIO. Trata-se de um gênero oral expositivo.O seminário está presente nos meios escolares, nas universidades, em instituições de pesquisas científicas e técnicas. Através dele, uma pessoa ou grupo de especialistas, depois de terem desenvolvido uma pesquisa, podem apresentar o resultado para um público.Conceituando o gênero...
Discurso em que se desenvolve um assunto (conteúdo referencial), ou transmitindo-se informações, ou descrevendo-se ou, ainda, explicando-se algum conteúdo a um auditório de maneira bem estruturada. Trata-se de um gênero público pelo qual um expositor especialista faz uma comunicação a um auditório que se dispõe a ouvir e aprender alguma coisa sobre o tema desenvolvido.

COSTA, Sérgio Roberto. Dicionário de gêneros textuais. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2008. p. 97.


AULA 05: SEMINÁRIO

Apresentação do seminário
A organização de um seminário compõe-se das seguintes partes:
1) Fases da introdução:
a) Abertura – na qual o expositor toma contato com o auditório, saúda-o, legitima sua fala.
b) Introdução ao tema – momento de entrada no discurso; etapa de apresentação, de delimitação do assunto e de despertar a curiosidade do público. Geralmente, usa-se expressões como: “Hoje vou falar-lhes sobre...”.
c) Apresentação do plano da exposição – o expositor deixa claro ao auditório seu plano de exposição e o planejamento do seu discurso: “Primeiro vou lhes falar sobre... depois vou definir... e em seguida vou dar exemplos de... e finalmente poderemos concluir que...”.

2) Fases do desenvolvimento:
d) Corpo da exposição – encadeamento dos diferentes temas, ou seja, o que foi exposto no plano. O expositor poderá usar expressões como: “Passemos agora a...”; “O que abordaremos agora é...”.
e) Recapitulação e síntese – permite retomar os principais pontos da exposição e fazer uma transição entre a exposição e a conclusão.

3) Fases da conclusão:
f) Conclusão – transmite uma “mensagem” final, ou apresenta um novo problema, desencadeado pela exposição, ou, ainda, dá início a um debate.
g) Encerramento – o expositor agradece o convite recebido, a atenção que lhe foi dispensada pelo auditório e coloca-se à disposição de todos para questionamentos.
h) Tempo – o expositor deve estar atento ao tempo estipulado que lhe é dado para falar, sendo capaz, quando necessário, eliminar exemplos e aspectos secundários.

SCHNEUWLY, Bernard; DOLZ, Joaquim e colaboradores. Gêneros orais e escritos na escola. Trad. e org. de Roxane Rojo e Glaís Sales Cordeiro. 2. ed. Campinas, SP: Mercado de Letras, 2010. (As faces da linguística aplicada) p. 186-187. (Com adaptações).

Embora a principal linguagem de um seminário seja a verbal, pode-se também usar recursos audiovisuais como: “slides”, “datashow”, filmes etc. Tais recursos devem servir de apoio à exposição oral e não substituí-la.Com relação à linguagem, em geral, nos seminários predomina a variedade padrão da língua, podendo ser mais informal conforme o público.O apresentador deve evitar marcas da linguagem oral, como: “né?”, “tá?” etc. Por outro lado, deve usar expressões de reformulação (explicação): isto é, ou seja, quer dizer, por exemplo etc.Observe abaixo o início de apresentação de um seminário, cujo tema foi o meio ambiente:

“Minha preocupação com o assunto começou em 1978, quando temas como impactos ambientais, preservação do ambiente, alimentação, saúde e qualidade de vida ainda não apareciam tanto nos noticiários. Na época, era ilustrador e colaborador de uma revista pioneira no assunto, "Arte e Pensamento Ecológico", divulgadora de um movimento organizado por nomes como Aldemir Martins, Burle Marx, Darcy Penteado, e Cláudio e Orlando Villas Boas. Meu trabalho de graduação na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo foi o projeto de uma pequena comunidade agrária utilizando tecnologias alternativas que respeitassem os recursos naturais e o meio ambiente. O assentamento habitacional e as pequenas indústrias previstas utilizariam tecnologias como geradores de biogás, energia eólica, solar e outros recursos renováveis, além de técnicas construtivas alternativas com materiais de baixo impacto no meio ambiente. Jovem e idealista, depois da faculdade passei 3 anos vivendo no Brasil Central procurando colocar em prática minhas ideias.”

Disponível em: http://mariopersona.com.br/meio_ambiente.html.

A partir do trecho do seminário lido anteriormente, responda:
1. Pelo início do seminário, o expositor parece suficientemente preparado ou em condições para falar sobre o meio ambiente? Por quê?
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2. Resuma com suas palavras a experiência que o expositor tem com o tema.
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3. Embora o seminário seja um gênero oral, não observamos o uso da linguagem coloquial ou gírias no trecho apresentado. Explique por que o expositor escolheu essa linguagem para expressar suas ideias.
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4. Agora, é a sua vez! Pense que você irá participar de um seminário e fará uma apresentação sobre “Bullying nas escolas” para a turma.Antes, porém, é necessário se preparar para esse momento. Por isso, escreva abaixo o início de sua apresentação, com abertura, introdução ao tema e apresentação do plano de exposição, conforme explicados na aula anterior. Vamos lá?
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AULA 06: DEBATE REGRADO

Nesta aula estudaremos sobre outro gênero oral – o DEBATE REGRADO. Trata-se de um gênero argumentativo. É um texto produzido oralmente, no qual um grupo de pessoas com opiniões divergentes discute sobre um determinado tema polêmico. Como exemplo de debate regrado, temos os debates televisivos em campanhas eleitorais para Presidente e Governadores. Esse debate é chamado de “debate de opinião de fundo controverso, que diz respeito a crenças e opiniões, não visando a uma decisão, mas a uma colocação em comum das diversas posições, com a finalidade de influenciar a posição do outro...” (Schneuwly e Dolz, 2010: 215) O debate coloca em jogo capacidades fundamentais, tanto as linguísticas (retomada do discurso do outro, marcas de refutação etc.), cognitivas (capacidade crítica) e sociais (escuta e respeito pelo outro), como as individuais (capacidade de situar, de tomar posição, de construção de identidade). (Schneuwly e Dolz, 2010: 214) Por ser um texto argumentativo oral, o debate regrado também apresenta:

Tese – ponto de vista do autor;
Argumentação – defesa do seu ponto de vista, fundamentada em opiniões e dados concretos.
Com relação aos argumentos, temos diferentes tipos:
Os de exemplos a serem seguidos (ou antimodelos, aqueles que não se devem seguir);
Os de analogia: usam-se exemplos que possam ser relacionados à ideia defendida;
Os de quantidade: usam-se os números de pesquisas para convencer que determinada ideia vale mais do que outra;
Os de autoridade: entre aspas ou por meio de marcas como segundo, de acordo, na opinião de, etc. usam-se as falas de especialistas no assunto do texto, de trechos de livros especializados no assunto, de obras literárias, trechos de lei, etc.;
Os de qualidade: centra-se a argumentação na valorização dos aspectos qualitativos em detrimento dos quantitativos.

CAMPOS, Elizabeth Marques; CARDOSO, Paula Marques; ANDRADE, Sílvia Letícia de. Viva português: ensino médio. São Paulo: Ática, 2010. Vol. 3, p. 244-245.

A contra-argumentação
Argumentos favoráveis e argumentos contrários à tese
No debate regrado, também estabelecemos relações de sentido entre argumentos a favor ou contrários à tese.Observe o exemplo:
“Os seres humanos precisam conviver em sociedade e criar vínculos fortes uns com os outros, porque a verdadeira amizade é mais profunda do que as pessoas imaginam: não é um relacionamento superficial, mas antes é construída à base de confiança, ou seja, lentamente. Há muitas pessoas que buscam amizades, mas nessa busca não se importam com sentimentos alheios.” A conjunção mas estabelece uma relação adversativa. Temos argumentos contrários à tese (ponto de vista). Devemos estar atentos à conjunção a ser utilizada, a fim de que a argumentação não fique incoerente. Podemos incorporar opiniões contrárias em um debate, tendo como princípio dois objetivos principais:

• criticar o que outras pessoas pensam sobre o tema, utilizando-se de argumentos consistentes;
• reconhecer que algumas opiniões contrárias podem ou não ser aceitas, porém necessitam ser avaliadas, revistas, complementadas ou alteradas com novos argumentos.
A contra-argumentação tem a finalidade de analisar ideias, com as quais se concorda ou não, na íntegra ou parcialmente.
O texto abaixo é a transcrição de um debate regrado da TV Cultura, programa Opinião Nacional, realizado no dia 28 de maio de 1999. O tema do debate é O Uso da Informática na Educação. Leia a transcrição do debate:

O Uso da Informática na Educação
Entrevistador: Heródoto Barbeiro Comentarista: Carlos A. Sardenberg Debatedores: Valdemar Setzer e Eduardo Chaves
Heródoto Barbeiro: Afinal, o uso da Informática na escola ajuda ou atrapalha? Os computadores estão cada vez mais presentes na sala de aula. Os estudantes usam programas de edição de texto, produção gráfica, “softwares” educacionais nos seus trabalhos escolares. O professor Valdemar Seltzer da USP considera esse uso prejudicial. Está aqui conosco o professor Eduardo Chaves da Unicamp que defende a informática na educação. Muito bem, nós convidamos os dois para um debate aqui. Professor Valdemar, boa noite. Professor Eduardo, boa noite. Professor Valdemar, esta questão da utilização do computador na escola não nos remete a uma questão anterior? Eu me lembro de quando saíram as máquinas de calcular. Aí eu cheguei para um professor de matemática, Professor Orivaldo Pereira, que era meu colega na época, e disse:
− "Escuta, esse negócio, por exemplo, agora, da maquininha, então não precisa mais saber fazer raiz quadrada é só apertar o botãozinho"? Aí ele me disse:
− "Olha, é como andar de bicicletas. Você sabe andar de bicicletas"? Eu disse:
− "Sei".
− "Você desaprendeu a andar por que anda de bicicletas"? Eu disse:
− "Não".
− "Então vamos usar as maquininhas que são os antepassados dos computadores".Eu gostaria de saber se o senhor concorda ou não com este professor que estou citando aqui, professor Orivaldo?
Valdemar Setzer: É interessante, Heródoto, que eu publiquei um artigo no jornal "O Estado de São Paulo", contra o uso de calculadoras eletrônicas na educação elementar, muito antes de se falar em computadores na educação, acho que foi nos anos 70 e qualquer coisa. Eu acho que aquele artigo tinha sido motivado por uma frase que foi dita por um famoso cientista da computação nos Estados Unidos, Joe McCarthy, dizendo que era um absurdo as crianças aprenderem aritmética em 1000 horas, quando podiam aprender em 10 horas ao usar uma maquininha de calcular. Ocorre que essa pessoa não percebe que o aprendizado da aritmética, o decorar da tabuada, representa um esforço mental, um esforço rítmico. O desenvolvimento que a criança faz decorando a tabuada é muito mais importante do que simplesmente sabendo-a de cor. Se se entregar a uma criança uma máquina de calcular muito cedo, a criança vai deixar de passar por essa fase de aprender essa abstração que é a tabuada. Terá deixado de fazer um treino mental essencial para o raciocínio e para a capacidade de memorizar.
Carlos Sardenberg: Mas a criança pode treinar em outras coisas, não pode?
Valdemar Setzer: Esse desenvolvimento, não.
Carlos Sardenberg: Não precisa treinar a tabuada ali 8x9, pode treinar em outras coisas, não pode?
Valdemar Setzer: Não, porque a tabuada é algo único, do ponto de vista mental. [...]
Heródoto Barbeiro: Como se fosse um ábaco?
Valdemar Setzer: É, no ábaco também se desloca uma pecinha ao lado da outra, mas ele exige muito menos coordenação motora [...]
Heródoto Barbeiro: Professor Eduardo, é assim o ensino do século XXI? Estamos na beirada do século XXI, é tricotando que nós vamos desenvolver o ensino do século XXI?
Eduardo Chaves: Poderia até ser, mas não será só com isso... Eu queria, de início, em vez de falar do século XXI, falar um pouquinho do século V a.C.. Naquela época, Sócrates, por exemplo, se opôs ao uso da tecnologia da escrita (isto é, ao uso de materiais escritos, livros) na educação, principalmente por duas razões. Primeiro, disse ele, quando a gente usa um material escrito, a gente não precisa guardar o conteúdo na memória (pois está sempre ali, disponível) e, assim, esse tipo de material não exercita e fortalece a memória. Segundo, acrescentou ele, com o livro você não pode dialogar: se você fizer uma pergunta para o livro, ele não responde... Assim sendo, para Sócrates, a educação era alguma coisa que deveria ter lugar entre duas pessoas, face a face, uma dialogando com outra... Para ele, o livro, ou qualquer material escrito, iria atrapalhar a educação, pois interferiria com esse diálogo interpessoal face a face...
Carlos Sardenberg: O que era uma bobagem... (risos)
Eduardo Chaves: É verdade: essa foi uma grande bobagem socrática – o que prova que até grandes homens dizem besteira. A história é análoga à da bicicleta que o Heródoto mencionou: quando a gente aprende a andar de bicicleta, a gente não precisa abandonar o andar a pé. Hoje a gente nem se dá conta de que o livro é tecnologia, de que a gente usa o livro, usa uma série de outras coisas que são tecnologia, usa tudo isso na educação, com a maior naturalidade – sem abandonar o diálogo socrático, que continua importante. Na verdade, a tecnologia até aumenta, exponencialmente, as possibilidades que temos de dialogar socraticamente – interpessoalmente, mas não face a face. [...] Então, o que eu não consigo entender em posturas como as do Setzer, é porque a criança, que hoje é acompanhada pela tecnologia desde antes de nascer (faz exames de ultrassom, nasce num centro cirúrgico sofisticado, vai para casa de carro, que é uma tecnologia, em casa tem eletricidade, quando não tem uma babá eletrônica para informar aos pais que a criança está chorando, etc.), não pode – ou não deve – aprender com o auxílio da tecnologia. Pelo que sei, o Setzer não se opõe, como Sócrates, a que a criança aprenda usando o livro, usando materiais de toda sorte que são tecnologia ou são subprodutos da tecnologia. Ora, por que singularizar, por que pegar computador e a máquina de calcular como bodes expiatórios e dizer: na hora de aprender a criança não pode – ou não deve – usar essas coisas aqui. Parece-me que fazer isso é quase cometer uma violência contra a criança, é dizer: olhe, o seu aprender, a sua educação não têm nada a ver com sua vida fora da escola; lá fora você usa toda a tecnologia disponível, mas aqui dentro da sala de aula você só pode usar as tecnologias do livro, do giz, do quadro-negro - ou do tricô. Não é esquisito? [...]
Carlos Sardenberg: Há estatísticas a respeito disso, por exemplo, você avaliar o desempenho de alunos de escolas que usam o computador ou não usam o computador? Há modos de medir isso?
Valdemar Setzer: Sim, eu gostaria de citar dois estudos, aliás, os dois da mesma universidade de Carnegie Mellon, uma das melhores universidades americanas. Um deles é um estudo que foi publicado há alguns meses, em que se demonstrou que o uso da Internet produz aumento de depressão e antissociabilidade. Foi uma surpresa porque, inclusive, esse estudo foi financiado por Bill Gattes & Cia., que queriam resultados exatamente contrários. Outro estudo foi muito interessante e diz respeito direto à nossa questão aqui. Ele cita uma pesquisa, naquela mesma universidade, em que se examinou o resultado de testes de matemática de crianças que tiveram aulas de uso do computador, em comparação com outro grupo de crianças que não teve aulas de uso do computador, mas estudou música, estudou piano. O resultado daqueles que estudaram piano foi muito melhor nos testes de matemática dos que tiveram computador. [...] Eu gostaria de acrescentar o seguinte. Todas as experiências de uso de arte em qualquer ambiente escolar, prisão, FEBEM (que é o caso do magnífico projeto Guri, de ensino de música e formação de orquestras juvenis), dá resultados extraordinários. O computador não dá resultados extraordinários, pelo contrário, em minha conceituação, ele é extremamente prejudicial à formação intelectual, sentimental e volitiva das crianças e jovens. Isso está sendo comprovado cada vez mais por pesquisas estatísticas.
Heródoto Barbeiro: Eu quero agradecer a presença dos dois aqui, professores Valdemar, Professor Eduardo. [...] Mas o debate segue na Internet, via computador. Os dois participantes têm nas suas páginas artigos sobre o assunto. O endereço do professor Setzer é www.ime.usp.br/~vwsetzer. A “home Page” do Projeto Edutecnet do professor Chaves é http://edutec.net. O debate vai seguir lá, com certeza, mais animado depois da participação dos dois aqui. Muito obrigado aos dois. Muito obrigado.

[A transcrição deste debate foi feita, a partir de fita gravada, por Lourdes Matos, do grupo de discussão EduTec. Ela foi revista pelos entrevistados em Abril de 2008. ] http://www.ime.usp.br/~vwsetzer/debate-com-edu-chaves.html
Disponível em: http://edutec.net/Noticias%20e%20Eventos/Apoio/edsetze1.htm.

O debate acima traz um tema interessante e muito atual. Após a leitura da transcrição deste debate, você acabou de ler a transcrição de um debate regrado. Vamos responder algumas questões sobre o mesmo.

1. Observe a transcrição da fala introdutória do jornalista Heródoto Barbeiro, da TV Cultura:
“Afinal, o uso da Informática na escola ajuda ou atrapalha? Os computadores estão cada vez mais presentes na sala de aula. Os estudantes usam programas de edição de texto, produção gráfica, “softwares” educacionais nos seus trabalhos escolares. O professor Valdemar Seltzer da USP considera esse uso prejudicial. Está aqui conosco o professor Eduardo Chaves da Unicamp que defende a informática na educação. Muito bem, nós convidamos os dois para um debate aqui. Professor Valdemar, boa noite. Professor Eduardo, boa noite.”

a) Qual é a questão colocada para iniciar o debate?

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b) Na fala do jornalista, o que é dito sobre os estudantes?
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c) O que levou à escolha dos dois professores para o debate?

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O debate regrado é um texto coletivo e oral. Nele participam especialistas ou grupos de pessoas com pontos de vista diferentes, e um mediador que tem a função de abrir e fechar o debate, cronometrar o tempo de cada debatedor, orientar na obediência às regras na hora dos debatedores exporem as opiniões e zelar pelo respeito entre todos os participantes.

2. Releia as falas dos dois professores.

Qual a opinião (ponto de vista) do professor Valdemar Seltzer, da USP, sobre o uso da informática na educação? E qual a opinião do professor Eduardo Chaves, da Unicamp?
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3. Em um debate regrado, também há argumentos fundamentados em informações (exemplos, dados de pesquisa, estatísticas etc.), a fim de dar consistência à opinião defendida pelos especialistas.
a) Que fundamentos o professor Valdemar Setzer se utiliza para defender seu ponto de vista?
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b) E o professor Eduardo Chaves também se utiliza de argumentos para defender seu ponto de vista? Justifique.
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4. Como o jornalista finaliza o debate?
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Agora, caro aluno, vamos avaliar seus conhecimentos sobre os assuntos estudados nesta unidade.
As questões selecionadas são de vestibulares de diversas universidades. Cada pergunta apresenta apenas uma resposta certa. Mãos à obra! Teste os seus conhecimentos! Você é capaz!

1. Observe a seguinte declaração sobre o Pré-Modernismo: “Creio que se pode chamar pré-modernismo (no sentido forte de premonição dos temas vivos em 22) tudo o que, nas primeiras décadas do século, problematiza a nossa realidade social e cultural.” BOSI, Alfredo. História concisa da literatura brasileira. São Paulo: Cultrix, 1994. p. 306. Atente agora para o que se afirma a respeito de algumas obras e autores brasileiros e assinale a alternativa cujo conteúdo NÃO contempla a síntese crítica de Alfredo Bosi:

a) Um dos grandes temas de "Os Sertões" é a denúncia que Euclides da Cunha faz sobre o crime que a nação brasileira cometeu contra si própria na Guerra dos Canudos.
b) Monteiro Lobato imortalizou o personagem Jeca Tatu, transformando-o no símbolo do caipira subdesenvolvido que vive na indolência e pratica sempre a "lei do menor esforço".
c) Mário e Oswald de Andrade notabilizaram-se como os grandes líderes da revolução de 22 e, portanto, do processo de ruptura em relação à tradição intelectual, libertando a literatura brasileira da "calmaria" em que se encontrava.
d) Lima Barreto expressou sempre o inconformismo face às injustiças sociais e, na obra "Triste Fim de Policarpo Quaresma", construiu uma imagem caricata do Brasil com todas as suas contradições.
e) Em "Os Sertões", Euclides da Cunha opõe o homem do sertão ao homem do litoral, acentuando-lhes as diferenças econômicas e socioculturais.

 2. Uma atitude comum caracteriza a postura literária de autores pré-modernistas, a exemplo de Lima Barreto, Graça Aranha, Monteiro Lobato e Euclides da Cunha. Pode ela ser definida como:
a) a necessidade de superar, em termos de um programa definido, as estéticas românticas e realistas. b) pretensão de dar um caráter definitivamente brasileiro à nossa literatura, que julgavam por demais europeizadas.
c) a necessidade de fazer crítica social, já que o realismo havia sido ineficaz nessa matéria.
d) uma preocupação com o estudo e com a observação da realidade brasileira.
e) aproveitamento estético do que havia de melhor na herança literária brasileira, desde suas primeiras manifestações.

Disponível em: http://dialogoeducacional.blogspot.com.br/2012/03/pre-modernismo-exercicios.html.

3. Leia atentamente o texto abaixo, de Euclides da Cunha:
“Isoladas a princípio, estas turmas adunavam-se pelos caminhos, aliando-se a outras, chegando, afinal, conjuntas a Canudos. O arraial crescia vertiginosamente, coalhando as colinas. A edificação rudimentar permitia à multidão sem lares fazer até doze casas por dia; - e, à medida que se formava, a tapera colossal parecia estereografar a feição moral da sociedade ali acoutada. Era a objetivação daquela insânia imensa. Documento iniludível permitindo o corpo de delito direto sobre os desmandos de um povo. Aquilo se fazia a esmo, adoidadamente. A urbs monstruosa, de barro, definia bem a civitas sinistra do erro. O povoado novo surgia, dentro de algumas semanas, já feito ruínas. Nascia velho. Visto de longe, desdobrado pelos cômoros, atulhando as canhadas, cobrindo área enorme, truncado nas quebradas, revolto nos pendores – tinha o aspecto perfeito de uma cidade cujo solo houvesse sido sacudido e brutalmente dobrado por um terremoto.”

Disponível em: http://isacliteratura.blogspot.com.br/2009/03/literatura-3o-ano.html.

a) O texto de Euclides da Cunha foi extraído de sua obra-prima. Cite o título dessa obra. _______________________________________________________________________

b) Diga o gênero em que ela se enquadra (romance, ensaio, conto ou poema épico). _______________________________________________________________________

c) O núcleo da referida obra são os acontecimentos de Canudos. Diga, em síntese, o que ocorreu ali. _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________

d) Quem era o chefe místico de Canudos? _______________________________________________________________________

4. “[...]Lobato publicou seus primeiros livros: "Urupês", "Cidades Mortas" e "Negrinha". Segundo Marisa Lajolo, Lobato nestes livros traz o melhor de sua literatura, principalmente em "Urupês'' e "Negrinha'', nos quais, segundo ela, "comparecem os diferentes brasis que até hoje, sob diferentes formas, assombram as esquinas da nossa história. Os contos contam do trabalho do menor, do parasitismo da burocracia, da violência contra negros, imigrantes e mulheres, da empáfia dos que mandam, do crescimento desordenado das cidades, da degradação progressiva da vida interiorana; enfim, os contos contam do preço alto do surto de modernidade autofágica que desemboca na crise de 30."O período literário ao qual Monteiro Lobato pertenceu apresenta obras em tom de denúncia da realidade brasileira. O Brasil oficial (cidades da Região Sul, belezas do litoral, aspectos positivos da civilização urbana) é substituído por um Brasil não-oficial (sertão nordestino, caboclos interioranos, realidade dos subúrbios). A realidade rural brasileira é exposta sem os traços idealizadores do Romantismo. A miséria do homem do campo é apresentada de forma chocante. A literatura retrata fatos políticos, situação econômica e social contemporâneas, diminuindo a distância entre realidade e
ficção.

Assinale a alternativa que apresenta o período literário ao qual está vinculada a obra de Monteiro Lobato, e cujas características principais foram expostas no parágrafo acima.
a) Realismo.
b) Pré-Modernismo.
c) Modernismo.
d) Arcadismo.
e) Simbolismo

5. Nos parágrafos abaixo, sublinhe a tese e coloque os argumentos entre parênteses.
a) As leis já existentes que limitam o direito de porte de arma e punem sua posse ilegal são instrumentos que efetivamente concorrem para o desarmamento, e foram as responsáveis pelo grande número de armas devolvidas por todos os cidadãos responsáveis e cumpridores da lei, independentemente de sua opinião a favor ou contra o ambíguo e obscuro movimento denominado desarmamento. Os cidadãos de bem obedecem às leis independentemente de resultados de plebiscito, enquanto os desonestos e irresponsáveis só agem de acordo com seus interesses desobedecendo a todos os princípios legais e sociais, e somente podem ser contidos através da repressão.
(Opinião, site O GLOBO. In: http://oglobo.oglobo.com/opinião/mat/2011/04/12/a-quem-interessa-um-plebiscito-sobre-desarmamento-924221689.asp).
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b) Todos os palestrantes concordaram que a participação da sociedade civil é fundamental para que qualquer debate sobre a comunicação avance no Congresso. “Se dependermos apenas do conservadorismo da Câmara e do Senado, será muito difícil avançar”, discursou o deputado Ivan Valente. Ele destacou o fato de que (existem parlamentares no Congresso que tem fortes vínculos ou até mesmo são proprietários de meios de comunicação. “Até os Estados Unidos, o país mais liberal do mundo, estabelece limites para evitar monopólios e define que quem tem rádio não pode ter televisão, e vice-versa. Precisamos pautar-nos em propostas como essas”.
(Ricardo Carvalho. Regulação da mídia é pela liberdade de expressão. Carta capital. In: http://www.cartacapital.com.br/politica/regulacao-da-midia-e-pela-liberdade-de-expressao).
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c) A leitura de jornais e revistas facilita a atualização sobre a dinâmica dos acontecimentos e promove o enriquecimento do debate sobre temas atuais. A rapidez com que a notícia é veiculada por esses meios é clara, garantindo a complementariedade da construção do conhecimento promovida pelas aulas e pelos livros didáticos. O apoio didático representado pelo uso de jornais e revistas aproxima os alunos do mundo que os cerca.
(Ana Regina Bastos – Revista Eletrônica UERG. Mundo vestibular: In: http://www.mundovestibular.com.br/articles/4879/1/Como-se-preparar-para-o-vestibular-utilizando-jornais-e-revistas/Paacutegina1.html).
(Superguia Enem: preparação passo a passo. Bauru: Editora Alto Astral, 2012.)
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Caro aluno, que tal participar de um debate? Para isso, reúna-se com 3 colegas e sigam as instruções a seguir.Imagine que vocês precisam participar de um debate com o tema “O uso de telefones celulares na escola atrapalha o desempenho dos alunos?”

Planejamento:
1) Dentro de cada grupo, divida uma dupla para cada posicionamento. Assim, enquanto uma defende o uso dos celulares, a outra vai defender a proibição desses aparelhos na sala de aula;
2) Cada dupla precisará anotar todos os argumentos levantados para cada posição;
3) Numa etapa posterior, cada dupla deverá pesquisar e reunir provas para suas respectivas teses, organizando materiais como imagens, reportagens etc.;
4) O material de cada dupla deverá ser organizado num bloco de folhas a ser entregue ao professor no dia em que ele marcar;
5) No dia marcado, as duplas se enfrentam num debate, cujas regras e mediação serão administradas pelo professor.

http://www.conexaoprofessor.rj.gov.br/downloads/cm/cm_9_10_70_2S_4.pdf